Pole position



Segue-se um excerto da ladainha do costume:
“— Vá, tu primeiro!
— Não. Tu!
— Oh! Vá lá!
— Nã-nã-nã… tu!”
Ora, em que possível situação é que se pode enquadrar esta discussão patética? É só escolher. E a que eu escolho agora é uma das situações que mais atormentam tanto homens como mulheres. É o eterno chover no molhado, se assim o quiserem entender (se não quiserem, quero eu, e é o quanto basta). É a idiota indecisão acerca de quem deve dar o primeiro passo. Quem deve dar o primeiro abraço? E o primeiro beijo… eu ou tu? E o primeiro vamos-a-isso? Quem é que se faz ao piso, hã? É claro que toda esta discussão imbecil se passa apenas dentro das cabeças das pessoas envolvidas, uma vez que não há a tal… (como é mesmo?) coragem para verbalizar o que realmente se quer, quando se quer. O facto é que ambos querem. Não importa realmente quem seja o primeiro a avançar. O que importa é que se queira. Pois! Acontece que as pessoas não funcionam assim. Há o status quo que deve ser mantido. E, afinal, o que raio é esse tal de “status quo” para ser assim tão cegamente defendido como dogma inquestionável? Bem, é simplesmente a maneira como as relações entre homens e mulheres sempre decorreram. Ao cavalheiro compete tomar a iniciativa. À dama compete esperar que a iniciativa seja tomada. Eu gostaria de estar a falar de um procedimento que já se extinguiu há mais de um século mas, infelizmente, parece que daqui a um século ainda alguém há-de estar a defender esse tal de “status quo” como uma coisa bastante actual. Mas, afinal, por que raio há-de ser o macho a tomar qualquer tipo de iniciativa quando a fêmea também está definitivamente interessada? E porque grande carga d’água ambos os sexos aguentam ainda tamanho despropósito? Bem, as respostas são variadas, mas não são para todos os gostos (duvido que agradem a quem quer que seja). É o seguinte: as mulheres, por seu lado, gostam de manter a sua bela imagem (fachada cinematográfica) de criatura dócil e frágil, que tem de ser levada com muito cuidadinho, muitos paninhos quentes e tal, para se sentir valorizada e realmente desejada. Ei! Get real! Tal ilusão NUNCA foi uma verdade universal! Há por esse mundo fora um sem número de cadelas que fazem muitos cães enfiarem o rabinho entre as pernas quando arreganham os dentes. Por isso… por isso, hã! Por isso não me venham com lengalengas de velhas hipócritas que se masturbavam com crucifixos na flor da idade. E os homens, esses, bem (só me apetece debitar para aqui um chorrilho de impropérios cabeludos, daqueles bem “toma-lá-qué-práprenderes!”). É que a esmagadora maioria desses piiii (insulto gratuito censurado) continua a alimentar esse devaneio feminino de “ai e tal, que eu sou especial e não me devo sujeitar a dar o primeiro passo porque me posso lixar por ele não querer nada comigo ou, até, pensar que sou uma esta ou aquela”, e depois ainda se queixam que “elas é que têm a mania que são difíceis!” (só me ocorrem milhentas maneiras de mutilação em massa, cada uma mais dolorosamente castrante do que a outra!). Notícia de última hora: se as mulheres têm a mania que são difíceis, é porque os HOMENS (raios partam a maioria deles!) lhes permitem tamanho desvario! E para quê, já agora? Ora, a resposta não pode ser mais óbvia: o eterno ego masculino! Os pobres imbecis pretensiosos alimentam essa paparicação do sexo feminino apenas como forma de se auto-elogiarem. É que, lá no fundo da sua esperteza bacoca, juntam 1+1 (um cálculo prodigioso para alguns!) e convencem-se de que se eles conseguem conquistar uma mulher “difícil”, então, por dedução lógica, eles serão portentosos conquistadores. (cabrõezinhos estúpidos dum raio!). A simples realidade que escapa à maioria (homens e mulheres) é esta: a distância que separa um homem e uma mulher que se querem nunca é apenas um passo, mas sim dois. Se ambos avançarem um passo encontram-se no meio. Atinem! (é claro que permanece o pequeno detalhe de faltar saber quem dará o primeiro passo…).
Cão Sarnento.