Amantes de cristal




Complementos ou substitutos? Eis a questão. Mas, questões, há muitas. Como por exemplo: por que raio muitas mulheres insistem em brincar sozinhas quando, na verdade, o que não faltam são homens a quererem entrar na brincadeira? Custa assim tanto dizer “vamos lá a isso, que a brincadeira é danada de boa e até dizem que faz bem à saúde”? Custa? Oh, não, credo! Isso não, que vão pensar que são fêmeas fáceis, putéfias e afins. Deixem-se lá de lugares-comuns arcaicos, que as palermices do milénio anterior não fazem cá falta neste que está nos primórdios. É certo que eu aprecio um bom desafio (mulher que aquece, arrefece e volta a aquecer, e tal), mas, a bem da honestidade, esse jogo do “chega para cá e agora põe-te a milhas” torna-se verdadeiramente aborrecido quando, à partida, ambos percebem que o que interessa é a parte do “chega para cá”. É claro que vai haver sempre os tais defensores dos “bons costumes e da moral”. Quanto a isso, não há nada a fazer. É o karma da Humanidade. Sugiro que esses tais pobres machos se enrabem todos em fila indiana até fazerem um círculo em volta das suas pobres fêmeas, que se verão obrigadas a coçar os respectivos grelos com os seus deditos (sim, porque não há honestidade para arranjar um brinquedinho), desejando por tudo quanto lhes é mais sagrado estarem fora do círculo de panascas, onde há homens que conhecem brincadeiras que vão além de brincar aos sodomitas. Não que haja algum mal em brincar ao faz-de-conta, fingindo que se é um qualquer habitante da bíblica Sodoma… cada um faz o que bem entender com o orifício situado entre os seus nadegueiros. Cada um é como cada qual. Mas confesso que quase me aborrece a mania pandémica de as mulheres insistirem em mandar que os machos interessados vão mas é levar no cu quando, no pensamento, as queima a vontade vulcânica de lhes oferecerem o próprio. Em vez de o fazerem, vão para casa colocar o dildo de cristal na boquinha para humedecer e aquecer muito rapidamente, enquanto a vontade do pecado não se vai. Logo a seguir enfiam-se na banheira, com espuma de sais até ao pescoço, para lavar o que resta dos “maus pensamentos”. Acontece que essas fêmeas asseadas se esquecem sempre de lavar numa parte que, em crianças, somos martirizados para nunca esquecer… lavar bem atrás das orelhas. Lá, pertinho da nuca, onde nascem os pensamentos que nem o mais potente gel esfoliante consegue desbastar. Fechando o círculo (não, não é o tal dos panascas moralistas), e voltando ao início… se os tais amantes de cristal (ou plástico, ou silicone, ou borracha, ou couro… e o que mais o Marquês de Sade pudesse imaginar) são complementos, venham eles que, em boas mãos, a brincadeira agradece. Mas se forem substitutos, bem… boa sorte quando chegarem ao ponto de lhes dizerem “pára” quando, na verdade, a última coisa que querem fazer é parar. Em questão de substitutos, quem manda é a mãozinha. E quando se chega ao ponto em que o macho deveria parar por momentos, para prolongar a agradável tortura, a mão da fêmea acelera e despacha a coisa como quem tem de tomar café à pressa, já com vinte minutos de atraso para picar o ponto no trabalho. Mas, enfim… repetindo a velha máxima: cada um é como cada qual… uns são de plástico, ou silicone, ou borracha, ou couro, ou (requinte dos requintes) até de cristal!
Cão Sarnento.

Não me ames assim



Hoje apetece-me falar de coragem. Apetece-me ajoelhar-me no chão, bater com a testa no pavimento várias vezes, em adoração a uma divindade silenciosa dos tempos modernos. A divindade é, obviamente, a “coragem”. Lamentavelmente, tal como todas as divindades, a coisa carece de provas e verificação científica, não é? Bem, na verdade, não é exactamente assim. Esta divindade dos tempos modernos existe de facto, e os seus adoradores crescem a olhos não vistos (sim, eu disse “não vistos”). Esta divindade é adorada pelos seus seguidores de um modo bastante peculiar, que consiste basicamente em… qual é mesmo a expressão adequada?..ah, sim… “porrada pró lombo”. O mais alto ideal dos seguidores desta religião florescente é o evidente “até que a morte nos separe…” (uma vez que a Justiça é lerda, e de outro modo não vejo jeito… mas isto já sou eu a divagar). O dogma fundamental de tão elevada doutrina é uma ideia muito simples: “A violência doméstica não existe”. E sabem que mais? Todos começamos a acreditar nessa mentirola professada pelos decanos ignorantes da vidinha desgraçada e amordaçada. E mesmo aqueles pobres diabos que se julgam no direito de dizer, “ah, e tal, essa vossa religião é uma treta de jumento com palas nos olhos” são facilmente silenciados com a filosófica arma secreta: “entre marido e mulher, ninguém mete a colher!” (a simples lógia, que nos permite concluir que uma reles colher não impede ninguém de levar na tromba, facilmente expõe a imbecilidade inerente a tal comentário). Apesar do meu elevado entender em matéria de relações interpessoais, confesso que não compreendo onde esses crentes corajosos vão buscar tanta fé para se manterem apegados a uma religião tão exigente. Se calhar sou eu que apenas não vejo a sublime verdade (para os fiéis seguidores, são sempre os outros que não vêem… o que quer que seja que eles “imaginam”… que, na maior parte das vezes, cinge-se apenas ao raio que os parta). Pois bem, chamem-me retrógrado, se assim o entenderem, senhores seguidores da tal “fé coragem progressista perfeitamente normal dentro de quatro paredes conjugais” (… a ver se eu não me estou bem a defecar para o que assim entendam), mas é que, simplesmente, não me entram na cabeça duas coisas, a meu ver, bastante ilógicas: a) por que razão o homem bate na mulher; b) por que razão a mulher se deixa bater. Podem explicar-me? “Ah, e tal, não é bater… não é. Acontece que todos os casais têm desavenças.” Pois… deve ser mesmo isso… apenas uma questão de semântica. Pronto, Ok… também há mulheres que batem nos homens, é certo (o que, a meu ver, até está muito bem para essas coisas de igualdade de direitos, e isso), mas como a percentagem dessa ocorrência é tão ridícula como a própria ocorrência em si, aqui fica a nota de rodapé, a bem da justa menção dos dois lados da questão. Lamentavelmente, a questão não tem apenas dois lados. Ai pois não tem, não. Esta religião dos tempos modernos é um raio de um polígono que tem mais faces do que um esquizofrénico sob o efeito de LSD. Essas são as faces a quem a religião coragem mais exige fé. Pois esta doutrina de “não meter a foice em seara alheia” é daquelas que se propaga às custas de sacrifícios cerimoniais. No início, eu disse que me apetecia falar de coragem, mas só tenho falado de cobardia, não é? Bem, a tal coragem que publicitei referia-se àqueles que realmente precisam dela… as tais vítimas cerimoniais desta religião silenciosa dos tempos modernos… os filhos. Os restantes, esses, mantenho o que disse… ajoelham-se perante o altar da coragem mas, na hora de sofrer, preferem sacrificar as vítimas da sua cobardia. Raios! Deve andar no ar algum vírus mirabolante, que não sei o que me deu para escrever isto… na verdade, eu só queria dizer uma frase: “fechar a mão e bater é feio… fechar os olhos e negar é monstruoso.” Era só isso.

Cão Sarnento.