"Dá-me o que sentes."



“Dá-me o que sentes. Tudo o que tens, quero. Isso é o que sei. O resto não quero saber.” Estas e outras alarvidades igualmente indicadoras de aguda alienação da realidade são provenientes de um estado de instabilidade mental vulgarmente conhecido como “sei lá” (não, não estou a dizer que não sei como se designa esse estado mental… apenas estou a dizer que eu lhe chamo mesmo “sei lá”). Chamem-lhe amor, paixão, cegueira sentimental, andar ao cheiro (you know what I mean), ou qualquer uma das infindáveis expressões que achem ter mais significado (como se isso tivesse um átomo de importância para mim). Seja qual for o lindo rótulo que colem na garrafinha, a coisa há-se sempre saber a limonada caseira feita à pressa com limões verdes, sem açúcar nem regulador de acidez. Sim, há quem goste. Quando a sede manda não se pode estar com esquisitices. O corpo pede e a gente dá (a gente, salvo seja… apenas uma expressão). Ora, e onde é que eu pretendo chegar com este palavreado? É com um certo desânimo que admito… a nenhures. (gosto desta palavra… nenhures nenhures nenhures). Bom! Então, para que raio serve isto que eu estou para aqui a dizer? No que me diz respeito, é a justificação do costume: eu desbobino para aqui uns metros de retórica e vocês maravilham-se com a minha infinita sapiência (ainda que, sei-o bem, nem todos percebem à partida as verdadeiras trufas camufladas no lamaçal das entrelinhas). Quanto àquilo que cada um pensa daquilo que escrevo… bah! Who gives a rat’s ass! Mas como eu estava a dizer (e muito bem, diga-se de passagem), a média de parvalheira sentimental que embota os sentidos ao comum mortal é bem mais elevada do que seria desejável. Muito para lá dos muito por cento! (quem perceber de números “irracionais” saberá que se trata de uma percentagem astronómica). Senão, vejamos… aaa… hum… eu sei que tinha para aqui um brilhantíssimo exemplo que não me ia deixar ficar mal, mas… aaa… foi-se. Bom! O que lá vai, lá vai. Não vamos agora chorar sobre leite derramado. Voltando ao cerne da questão, por que raio é que as pessoas ficam simplesmente imbecis quando aparece alguém que lhes diz: “olha lá, ó pessoazinha razoavelmente interessante… eu gramo-te à brava, tas a ver?” (OK! Admito que possa haver outras formas de abordagem… não vamos agora ser picuinhas). Confesso que isto é entendimento que a minha vasta sapiência não encaixa. Logo que sentem que alguém lhes lançou a rede, as pessoas deviam era abrir a pestana e ficar mais espertinhas. E não o contrário. Nunca o contrário, pá! Mas nããããooo. Pum! (não tem nada a ver com incómodas (dis)funções fisiológicas) Lá vai tiro no próprio pé! Pronto! E agora, a parte séria (para não dizerem que falo, falo…). Então, é o seguinte… o mundo, minha gente, é uma grande bola (dizem) ligeiramente achatada nos pólos e… espera lá… hum… não, esta parte também não vai servir para aprender nada de novo. Certo! Agora é que é! Não há cá essa coisa de oferecer o que se sente. Há que ser marroquino! Barganhar! Discutir valores. Em muitos por cento (novamente a tal percentagem astronómica), ceder à primeira oferta significa não ficar com o melhor negócio possível. Entregar o ourinho todo na primeira mão estendida que o pede é praticamente pôr no prego as jóias da família quando se sabe à partida que mais tarde não haverá dinheiro para as resgatar. Nada de convencimentos imediatos de que “agora é que é”. Se aparecer a tal pessoazinha cujo interesse vai além da dedicatória espertinha, bem memorizada de cor e salteada, que traz sempre consigo no interior da capa, há que lhe perguntar o que pretende fazer com aquilo que pede. E agora um conselho de amigo (mesmo não sendo): mesmo que a resposta seja convincente e caia bem no ouvido, desconfiem. Desconfiem, pá! (que nem toda a gente é tão honesta como eu!) Nunca é demasiado lembrar que nem tudo são rosas. E, mesmo que tudo sejam rosas, até as rosas têm espinhos. (epá! Às vezes, até fico maravilhado comigo mesmo!) Enfim! Mas até parece que eu estou mesmo a tentar dar conselhos sérios e preocupados! Ó santíssima inocência! Aqui só há uma coisa verdadeiramente séria e preocupada… aaa… hum… o que era mesmo? Oh, raios! Também se foi! Eu até ia mesmo dizer algumas coisas repletas de um qualquer sentido filosófico e meritórias de aprofundados pensamentos que durassem mais de dois segundos mas, vendo bem, a madrugada avança e é tempo de encher a pança (só para rimar). Ainda por cima, prevê-se mais um dia nublado, cinzento e deprimente. Se é mesmo para chover assim, quando já devia estar um calor digno de liberais práticas sexuais misturadas com salutar nudismo, que venha logo a porcaria do Cataclismo Líquido! (algo do género “ Dilúvio 2, o regresso de Noé”, ou o catano!) Ainda por cima, não dormi nada (no sentido literal). Por isso, acho que o Altíssimo me perdoa o desabafo de dizer que o São Pedro é mesmo um gaioleiro! Agora só me faltava que alguém me viesse pedir o que eu sinto! Havia de ser lindo, havia! Levava daqui uma rica prenda do Apocalipse!

Cão Sarnento.

Hard-core atravessado na garganta




“Vamos foder.” Mas, afinal, qual é o problema com esta simpática sugestão? Se é o homem a sugerir à mulher, a fêmea parece interpretar como o maior dos insultos à sua querida mãezinha. Se é a mulher a sugerir ao homem, o macho… bem, normalmente fica logo assustado e a fazer contas à sua prezada masculinidade. O que raio se passa com o mundo, “mes enfants”? (oh, sim… agora também uso expressões em Francês). Mas será assim tão difícil compreender que esta e outras falhas de comunicação só aumentam os já gravíssimos problemas de expressão entre os sexos? Vamos lá começar a chamar as coisas pelos seus devidos nomes e deixem-se de eufemismos de merda (ah! Já agora, sempre que quiserem dizer merda, digam mesmo merda e não “porra”… se considerarmos que “porra”, para além da interjeição que significa irritação, impaciência ou descontentamento, também significa pénis, e por proximidade “caralho”, e é ainda uma designação para esperma, se calhar “porra” até nem é uma expressão assim tão eufemística). Mas, como eu dizia antes de tão revigorante lição de léxico, não se metam em atalhos de manias falsamente civilizadas. Por que razão hei-de eu dizer: “quero fazer amor contigo” quando, na realidade, as palavras que me estão na cabeça são: “quero a tua cona”? E a expressão “quero fazer amor contigo” é particularmente imbecil quando nem sequer há amor. Em qualquer dos casos (haja ou não o tal de amorzito), a expressão “quero a tua cona” é sempre verdadeira. Alguém que me diga que isso não é verdade. E não me venham as fêmeas com o paleio do costume… “ah, e tal, pois os homens são mesmo todos assim”. Olha, falam as rotas dos esfarrapados! Até parece que há alguma diferença significativa entre os sexos no que toca à arte de dizer uma coisa e pensar outra. Venham-me agora dizer que se a coisa não for bem trabalhada como deve ser por parte do maridinho ou do namoradinho ainda vai haver a vontadinha de fazer o tal amor. Bem, até acredito que essa vontade continue a sentir-se… mas por outro qualquer que não seja o maridinho ou o namoradinho. É essa a realidade das coisas. E quem sou eu para dizer que a realidade é isto ou aquilo? Ora, isso é coisa que eu não tenho de explicar. Sabendo o que sei, tendo visto o que já vi, e experimentado o que já experimentei, sei perfeitamente que ninguém tem moral suficiente para questionar a validade das minhas afirmações neste departamento. Todos somos uns tarados em potencial. Uns aceitam o moralmente inaceitável. Outros condenam tudo isso com rótulos de coisas escabrosas, lá por detrás do seu escudo da moralidade que eles próprios odeiam na sua intimidade. A grande diferença entre ambos é que uns (os “desavergonhados” como eu) aceitam o que está dentro de si e tudo aquilo que podem ser, enquanto que outros (a triste maioria que gosta de usar a palavra “desavergonhados”) censuram todos aqueles que não se submetem à cobardia do moralmente aceitável. Essa triste maioria faz o seu amor na tal posição de missionário (oh, como eu acho deliciosamente divertida esta expressão!), na comodidade do seu colchão ortopédico, com o mínimo de atrito possível entre os corpos. Não queremos agora pensar que em vez de fazer amor estamos a foder, não é verdade? E ai de ti se gemes! Ao primeiro pio condenas-te. Dizes um “ai” e a submissa esposa imediatamente se transforma na mais lúbrica das grandes putórias! Já o excelente e cumpridor marido também não pode estar com grandes liberdades no meio das pernas da sua respectiva cônjuge. Não vá agora o pobre imbecil descair-se dos hábitos adquiridos em casas de luz encarnada à porta, onde jovens fêmeas das mais variadas nacionalidades aviam piças como quem empacota salsichas numa atarefada linha de montagem onde as trabalhadoras ganham à comissão. É. O mundo é mesmo assim. Podem chamar-me tarado à vontade. Se ser tarado significa agir de acordo com a natureza que nos permite continuar a proliferação da espécie (mesmo sem contribuir propriamente… não tem mal nenhum treinar bastante para aperfeiçoar a coisa), prefiro sê-lo e crescer até ao maior dos hedonistas do que reprimir instintos perfeitamente saudáveis e insistir em dizer que quero provar o meu amor por A, B ou C, quando na verdade quero é “provar” todas as conas de A a Z. Vamos foder.

Cão Sarnento.