É...




Foda-se, meu amor, não me negues o tesão! Amar fica caro se não houver aquele calor do corpo que faz com que tudo não seja apenas bom. Às vezes, “apenas bom” é pouco e faz parir desejos de querer “muito bom”. Dá-me a tua verdadeira vontade de fazer coisas que te envergonham. Senão… bom será apenas bom. É. As coisas são mesmo assim. Negar aquilo que nos faz corar é definhar todos os dias um pedacinho. É uma célula que morre em vez de se reproduzir. É a apatia em vez do sentir. É a mão na frente da boca a conter a vontade de rir. Rir à gargalhada é liberdade que poucas vezes se permite por se achar uma coisa errada… pouco educada. O que é educação? É sentir aquela vontade danada e, mesmo assim, dizer não? Muita gente faz isso para que a pessoa que lhe dá essa mesma vontade não fique com a “ideia errada”. “Ai, que eu não quero que ele pense que eu sou uma oferecida, uma esta ou uma aquela.”, pensa a moça preocupada. “Epá, é melhor ir com cuidadinho para ela não pensar que eu só a quero para aquilo.”, pensa o rapaz interessado. Sim, há muitas pessoas que pensam assim só para não transmitirem a ideia errada. Idiotazinhos ridículos e cobardolas. Não há maior ideia errada do que pensar uma coisa e dizer outra completamente oposta. E, depois, vêm para cá com teorias pseudo-académicas de que nunca alguém conhece verdadeiramente alguém. Pudera! Se ninguém se dá realmente a conhecer, é apenas isso que se tem. Não desatem a carpir infelicidades por tamanha fatalidade do destino, como se tivessem menos culpa do que alguém. “Em que estás a pensar?”, perguntou A. “Em nada.”, respondeu B. É preciso adiantar mais conversa? Esta pergunta/resposta é suficiente para resumir o comodismo de aceitar passivamente uma mentira e o descaramento para inventar uma remendiola deslavada. E ambos sorriem, uma letra para a outra, A e B (substituam pelos nomes que bem entenderem… todos encaixam), ambos sabendo que a mentira está lá, e que a coisa boa, aos poucos, vai apodrecendo para uma coisa má. Pronto, tenho de admitir que, às vezes, “em nada” é mesmo uma resposta verdadeira. Mas poucos são aqueles que realmente possuem a capacidade de pensar em “nada”. É coisa de iluminado, que apenas o Buda e os seus compinchas do nirvana podem alcançar (é favor não incluir aqueles que são verdadeiramente estúpidos pois, para esses, não se trata propriamente de uma capacidade… é-lhes inerente e não lhes respeita a vontade). “Em nada” também pode ser apenas uma expressão que significa “nada de importante”. Nesses casos, é preferível responder mesmo assim. Entre A e B que se conhecem isso será bastante. É claro que poderá permanecer a questão: “Que merda… afinal, se estás aqui comigo, por que raio estás a pensar em nada de importante?” É…

Cão Sarnento.

"hush"


Hush

Hush little baby,
we’re coming home
for tonight
Not a certain but maybe,
we’re not alone
in our fright

The shimmering
mirror image of me
living in your eyes
it’s the wavering
last smile to see
in all our goodbyes

No waving hands
getting tired
No warm tears
getting cold
No fairy tale ends
getting desired
No deep fears
getting old

That’s the way
things are to be
when you can’t stay
inside of me

That’s desire
No lying
No shying
No ashes
No crashes
Just the fire
of those flames
inside the chest
without the blames
taking the best

Skin feeling skin
Lips kissing lips
Chin touching chin
Hips pushing hips

Hush…
Hush I said
Don’t cry alone in bed
Hush…
Hush little baby
Don’t let it get you
Smile, maybe…
Please, do

Cão Sarnento.

Fetish me




Como saber até onde podemos ir sem que nos digam onde devemos parar? Qual a força tolerável das palmadas até que se tornem verdadeiramente dolorosas e desagradáveis? E morder? Até onde podemos enterrar os dentes na carne sem fazer sangue. Qual a tolerância da pele ao fio das unhas? Quanta pressão se aguenta até surgir a vontade de gritar “foda-se, pára!”? E a confiança? Até que ponto nos permitimos entregar o nosso corpo nas mãos de outra pessoa e deixarmo-nos à mercê das suas vontades? “Queres prender as minhas mãos à cama? Algemar-me? E se gostas do que eu não gosto? E se mo fazes sem eu querer?” Como saber estas respostas sem as pedir abertamente? Devemos confiar nos instintos? Devemos acreditar que conhecemos verdadeiramente a pessoa que nos acena com um par de algemas? O que fazer? O que pensar? O que permitir? O que aceitar? Haverá respostas concretas? Devemos pedi-las? E se nos perguntam a nós? Devemos responder com sinceridade? Será que devemos? Será que não assustaremos quem nos pergunta? Será que não nos assustaremos a nós mesmos com certas respostas que acabamos por dar? Até que ponto alguém se conhece realmente? Quantos cantos escuros ficam por iluminar nas memórias reprimidas de um passado mal resolvido? Quanta sujidade escondida se encontra varrida para debaixo de um qualquer tapete marroquino? Quantas vezes nos recusamos a admitir que somos “assim”? Quantas vezes nos sentimos enojados por pensarmos “nessas coisas”? E quantas vezes não compreendemos por que razão não ficamos enojados por pensarmos em coisas piores? “Sim, é isso que queres? Que te bata? Mesmo? Com força? Mesmo?” E porque não? Porque não fazê-lo? Porque não permiti-lo? “Mas, mesmo a sério?” Porquê hesitar? Porquê perguntar? É para não magoar de verdade? É para sabermos se a outra pessoa quer mesmo uma agressão que lhe dará prazer em vez de sofrimento? E se não houver prazer? E se for apenas fingimento? E se a outra pessoa não gostar de apanhar? E se formos apenas nós que gostamos de dar? E se a outra pessoa apenas gostar tanto de nós que está disposta a fazer-nos essa vontade? E essa pessoa? E a sua vontade? Devemos contentar-nos com o egoísmo ou recusar essa cómoda falsidade? O que se faz quando se gosta de verdade? Sente-se a mentira? Reconhece-se a verdade? Sim? Não? É isso a cumplicidade? É um entendimento justo ou apenas a permissividade de cada um por gostar do outro com sinceridade? “Não” significa mesmo não? As recusas são sempre inequívocas entre amantes? “Não quero” significa sempre “não me apetece mesmo” ou, às vezes, significa apenas um “pode ser” de uma sedução preguiçosa e mal conseguida? É isto que se deve esperar da pessoa que se encontrou em algum dado momento da vida? É o medo do que há de mais íntimo entre duas pessoas que se querem um demónio assim tão difícil de exorcizar? É um monstro de feições assim tão feias que nos revolve as tripas? É uma quimera assim tão impossível de encarar por falta de coragem para aceitar as diferenças como elas são? E que diferenças? O que é verdadeiramente diferente? Quem o considera? Em relação a quê ou a quem? Quem tem esse direito e autoridade? E a sapiência para fazer tal juízo? Reside em alguém? E isso importa? Importa mesmo? Por que razão não havemos de querer amarrar alguém para sentir o poder de decidir sobre o prazer da pessoa que queremos? Se queremos essa pessoa, não queremos também que o seu prazer seja verdadeiro? “Posso prender-te à cama? Algemar-te as mãos? Queres experimentar o que é foder sem teres o controlo sobre o teu desejo de te agarrares a mim e cravar-me as unhas na carne? Queres arder com o tesão de procurares morder-me o pescoço sem te conseguires mexer para o fazer?” Porque não perguntar essas coisas? Porque não? Porque não fazê-lo enquanto olhamos a outra pessoa nos olhos e lhe pegamos na mão? Porque não? Porque não dizer-lhe quem somos se temos essa pessoa no coração? Porque não? São respostas difíceis de saber? Se me perguntarem, saberei responder? Saberei, se me olharem nos olhos? Saberei, se me pegarem na mão? Terei, antes, mais perguntas em vez de respostas? Sim? Não? Afinal, o que sei eu sendo apenas um cão?

Cão Sarnento.