"Morde-me a boca"


O sexo é só foder ou também é amor sem saber? Alguém sabe? Alguém quer saber? Não interessa. Essa é que é essa (não gosto desta expressão… só a usei para rimar). Seja como for, o sexo vai além do corpo e do calor. Mas e quando o corpo já não interessa e se acaba o calor? O que é que fica na cama? O que resta da chama? Palavras. Coisas cruas e sem sabor. O que for. Apenas duas pessoas que se comeram com a vontade de saborear coisas boas. Só isso. Tudo o resto levou sumiço (é, as rimas são todas propositadas). E quando tudo se vai, e ficam só as palavras, as palavras já não são palavras, são mentiras. Coisas que não se pensam nem se sentem, mas que se dizem apenas porque são giras. Grande merda. Antes de chegar a essa situação, mais valia as pessoas dizerem “já não tenho tesão”. Não seria grande perda. O que interessava não perder já tinha ido. E levou consigo a honestidade como se ela nunca tivesse existido. Quando o desinteresse ganha lugar e as mentiras começam, mais vale dizer “morde-me a boca com vontade, e faz-me calar se o que eu tiver para te dizer não for verdade”. Talvez aí, nessa dentada, regresse o interesse em menos de nada. Talvez a chama se reacenda como se, aos olhos do desinteresse, a dentada se tornasse uma venda. Depois, acontecia o que tinha de acontecer. Os corpos aproximavam-se e recordavam o sabor um do outro. Ou, então, afastavam-se até esquecer. É a decisão do quente ou frio. Choro ou rio. O morno é uma temperatura desinteressante que leva à apatia do tanto me faz que as coisas sejam boas ou más. Normalmente, é precisamente isso que as pessoas conseguem umas das outras. Morno. A temperatura do casamento sem amor. Da relação sem emoção nem calor. Morno. Uma coisa que deixa a mulher frígida e o homem corno. Se, ao menos, houvesse a coragem para dizer “se não me podes amar, morde-me a boca e faz-me sangrar”.

Cão Sarnento.