"Fuck you very much (ou masturba-me o cérebro)"

Foder.


(é, a palavra assim isolada tens os seus efeitos)


(e um parênteses a referir os efeitos da palavra destrói completamente os tais efeitos)


(é como pensar “quero comer-te o cu”, e dizer “abraça-me”)


(pior do que isso… é dizer “abraça-me”, e pensar “quero que me comas o cu”)


Chega de parênteses. E apartes. E notas de rodapé. Foder é o que é. É um caralho e uma cona (para começar). Aqui não há amor. Não se entra no corpo de outra pessoa por amor. E também não se deixa entrar por causa de amar. É sempre uma incómoda imposição. Uma invasão. Para foder não pode haver respeito. O homem que respeita a mulher que lhe abre as pernas não fode, faz amor. Fazer amor é chili sem picante. Dizer isso é o bastante. A mulher que respeita o homem que lhe entra pelas pernas não fode, faz… o que for (eu cá, não sei… a sério que não). “O que for” é a mais puta dor. E dói porque a mulher não sabe. Nunca sabe se o homem que lhe entra e sai do corpo, ao ritmo da respiração, a quer ou não. Querer com vontade para além “daquela” vontade. A mulher sabe que o quer. É por isso que o deixa entrar. Mas, se ele a “quer”, vá-se lá saber até onde as promessas são verdade. Então, e o contrário? Alguém se lembra de perder horas de sono, de olhar parado na luz apagada, a matutar nas contas desse rosário? E quando é o homem o otário? E quando é ele que cai no conto do vigário? Homem não chora? Ora essa, agora! Ai chora, chora! E, já agora, também cora (só para rimar com “chora”). Ah! E não adianta remoer mais a parte em que eu disse que para foder não pode haver respeito. NÃO PODE! (há que aceitar e andar lá com isso). Sim, subsiste a questão: então, como é que se fode com alguém que se respeita? A minha resposta: boa sorte com isso! Eu sei o que é preciso fazer (não me perguntem se o faço sempre… além do mais, não respeito assim tanta gente dessa maneira). Pois tudo muito bem, assim não se elucida ninguém. E eu com isso! EU-COM-ISSO! (isto aqui não é nenhuma trampa de consultório sentimental). E a incómoda questão persiste: como é que se fode com alguém que se respeita? Não vou dar a resposta directa. Mas deixo pistas para quem fareja com o cérebro. Pista um: como é que se diz à mulher que se ama “quero vir-me na tua boca”? (sim, no que toca a ensinar, sou mesmo um sacana de merda!). A maioria das pessoas discordará, mas também se pode responder a uma pergunta com outra pergunta. Neste caso, quem souber a resposta para a pista um, também saberá a resposta para-a-incómoda-questão-que-persiste: como é que se fode com alguém que se respeita? Pista dois: como é que se diz ao homem que se respeita “quero a tua língua dentro de mim, até me vir sem avisar”? Para quem esquece com os olhos e recorda com os dedos, será fácil notar aqui um padrão que se começa a desenhar: as minhas respostas são perguntas (eureka!). Responder a uma pergunta difícil com outra pergunta é uma espécie de vénia que se faz às pessoas que usam o intelecto. Uma resposta clara e directa dá-se a qualquer idiota. Os idiotas fazem amor, ou… o que for. Quem está bem, que se deixe estar. E, se está bem, não tem porcaria de motivo algum para se questionar: como é que se fode com alguém que se respeita? Pista três: o que se responde a alguém que nos pergunta “como é que se aguenta o nojo de fazer amor sem amor”? Pronto, para esta, eu vou dar a resposta: “respeito… ou o que for”. (daria o dedo mindinho do pé esquerdo para saber quantos percebem de facto até que ponto a minha resposta presta contas ao sarcasmo… os dedos mindinhos dos dois pés que eu daria!).


Cão Sarnento.

"Interpretação artística"


Serão as pessoas como as pintamos? Ou, melhor ainda, será que as pintamos como elas são? (na verdade, a pergunta é a mesma… só estou a adensar o enredo com uma pitada de retórica). Seja como for, a verdadeira pergunta é: serão as pessoas alucinações? (não, também não é esta a pergunta… onde é que raio deixei a porcaria da pergunta?). Ah! Serão as pessoas uma intrincada teia de pontas soltas emendadas no tear de onde sai a tela na qual projectamos os nossos próprios devaneios que designamos por “interpretação pessoal”? (oh, sim! Eu sabia que a verdadeira pergunta era uma coisa mais bicuda, bem ao jeito de uma pseudo-psicologia-intlectualóide do consultório sentimental “o/a doutor/a responde”, assinado por um/a bambo/a qualquer, ou bimbo/a, pimbo/a, ou o raio flamejante que suba pelo esfíncter a todos!). Sim, esta é uma abordagem muito mais académica do assunto. Esfíncteres electrocutados pela ira divina são um aceso tema de conversa dentro da comunidade gay que ainda não saiu do armário (com medo dos relâmpagos, claro está). E o que isso tem a ver com a conversa das pessoas? Resposta imediata: um rotundo nada. ERRADO! Tudo tem a ver com as pessoas! Essa é a grande tramóia universal. Os desatentos são os ratos no labirinto à procura do caminho certo para o glorioso centro enqueijado. (ó que deliciosa expressão… para quem gosta de queijo). Acontece, minhas bestas experimentais de laboratório, que há mais no mundo do que um naco de queijo. (não estou a fazer sentido, pois não? Já lá vamos). Como dizia, no mundo, também há bolachinhas, e fatias de bolo, e saladinhas PARA OS QUE TÊM A PROSTITUTA DA MANIA! Enfim! O cerne da questão é… (não, não são as reticências o cerne da questão! Só estou a pensar numa maneira melhor de colocar a pergunta. Parece-me que vou colocá-la de lado). “Pardon me, do you like anal?” Ai não? Então, não me fodas! Ai sim? Então, vai-te foder! Muito bruto? Não. Apenas verdadeiro. Preso por ter/ser Cão e por não ter/ser. Não concordam? Por mim, bem podem erguer as nalgas para o ar à espera do relâmpago. Um esfreganço com um molho de urtigas também produz o efeito in/desejado (puramente especulativo). De qualquer modo, thank you for smiling.

Cão Sarnento.

post scriptum: e não adianta virem para aqui com esgares de nariz inclinado… quem não riu, pelo menos uma vez, não tem qualquer sentido de humor. Para esses infelizes: thank you for trying to smile.

"Mania qués boa"


“Ah, e tal, és uma gata! Passava-te a mão pelo lombo e alisava-te o pêlo que era um mimo!” Pois muito bem, e depois! Por acaso, só porque as gajas possuidoras de uma embalagem bem publicitada são um regalo para os olhos dos mocinhos (e as lesbos, bis, e afins), por acaso, elas trazem garantia de qualidade? (pergunta retórica, claro). Não, não trazem. (resposta mais do que evidente… mas não fica bem discriminar os lerdos). Essas tais gatas podem muito bem ser uma prenda ranhosa disfarçada com um lacinho manhoso. Eu até poderia dizer que podem ser tão ruins como os evidentes camafeus (digo, “gente bonita por dentro”) mas, na verdade, essas prendinhas bem enfeitadas podem até ser muito piores do que as medusas mitológicas que o pessoal procura evitar como se disso dependesse o dia de amanhã. E como é que podem ser piores, se essas tais gatinhas são assim todas coisa e tal? Bem, o que acontece é elas também podem não ser nada de especial. O tal fogo de vista. E aí, meus amigos (apenas uma força de expressão), aí é que o circo pega fogo, ou qualquer outra metáfora imbecil que venha à cabeça. Pronto, vamos lá fazer sentido. Já alguma vez passaram as manápulas pela caixa das bolachas, assim já a salivar, e depois verificaram que a caixa estava vazia? (pronto, eu não resisto às metáforas… são umas gatas!). Pois é! Nem uma porcaria de uma bolacha bolorenta lá dentro! Apenas migalhas babadas pelos ratos! Mas o raio da caixa continua lá, enganadora, vazia mas tão apetecível como qualquer outra que esteja cheia. Pois é isso mesmo que acontece quando se come com os olhos. Uma dica: essa treta de visão de raio-x é FICÇÃO! Portanto, o meu conselho (extraordinariamente sábio, como sempre) é: não comecem logo a salivar antes de espreitarem para dentro da caixa! E não me venham com a resposta espertinha de que há caixas transparentes! Não venham! Essas caixas ainda são mais enganadoras! Dizem logo à partida: “anda cá que tenho aqui uma bolachinha para ti!” Acontece que, vai-se a ver, tem-se o trabalho de abrir a caixa e depois leva-se um palmadão nos dedos que é para aprender! É que essas tais gatinhas todas embonecadas acham que, só lá porque brilham como o ouro dos tolos, valem tanto como o “real deal”. E depois ficam com a mania das grandezas! Isso já é prerrogativa do mulherio em geral e, então, se elas tiverem um palminho de cara, um traseiro que dá vontade de trincar, umas mamas que fazem desejar ter outro par de mãos ou uma boca suficientemente grande (não perguntem!), umas pernas com altura para usar elevador, ou o raio que parta o que mais houver, bem… aí já é coisa do domínio do absolutamente sobrenatural, porque surge a tal maldição de “sou boa demais para ti!” Deves pensar, deves! Acontece que se “pensas” que és “boa demais” para mim, então, não me interessas, pá! GET REAL, estúpida de merda! (importa dizer que isto passa-se tudo no domínio especulativo do hipotético, e que se trata de um exercício teórico meramente sociológico sem intervenientes concretos… é que não quero que venham para cá perguntar quem foi a tal estúpida de merda que me disse que era “boa demais” para mim… até hoje, ainda não conheci nenhuma mulher que reunisse os extremos de coragem e estupidez para dizer tal despropósito a alguém que é bom demais por definição… eu, claro). Mas, para concluir, interessa dizer que não adianta algumas (muitas) mulheres estarem com a prostituta da mania que são boas como o milho (quem não gostar de milho, que não me chateie), se depois nem sequer sabem esfregar os lábios na boca do rapaz para lhe dar um beijo de jeito! No final de contas, a porcelana da China também é muito bonita e tal, mas não serve realmente para mais nada além de ficar no expositor a ganhar pó. Mas enfim, de tempos a tempos lá acabará por aparecer alguém que aprecie a actividade extremamente revigorante e preenchedora de espanar o pó das coisas lindas. E depois, como dizia um certo narrador de uns desenhos animados antigos absolutamente deprimentes, mas divinamente deliciosos: “Outro príncipe de seguirá para tentar agradar à nossa princesa.”

Cão Sarnento.

post scriptum: para quem não faz ideia de quais os desenhos animados que referi, depois de tantos príncipes, no fim, a princesa esquisitinha acabou por ficar com um parolo qualquer… é!

Eyes wide open



Este é o texto mais sério e mais longo que já escrevi aqui. Quem achar que não está para isto, não tem qualquer obrigação de enfardar a palha toda. Não há piadinhas subentendidas. Não há ironias para puxar o riso imbecil. Não há sugestão de sexualidade encapotada. Não há lições de moral acerca do que é mais banal. Não há filosofias de vida para quem não sabe para onde raio deve apontar o nariz e seguir por onde bem entenda. Não há ensinamentos suficientemente meritórios do desperdício de tempo que se revela tentar aprender pelos outros aquilo que se deve aprender sozinho. É demasiado sério. É raiva esganada com vontade de recorrer ao impropério. Vão lá ver o que é isso por causa da inanidade mental e do saber submisso (afinal, talvez a ironia esteja presente… ou isso). Às vezes, não é fácil ser como sou. Ler as pessoas com pequena margem de erro tem um custo. E esse preço não é justo. Nem para mim, nem para as pessoas. Quando eu as leio, não me dizem se são más ou boas. Dizem-me apenas que são pessoas. Dizem-me que são assim. Que gostam de mim. Que não gostam de mim. Às vezes, as mesmas pessoas dizem-me os dois opostos. Às vezes, ambas as afirmações são verdades. Por isso, eu não quero saber se as pessoas são boas ou más. Só quero saber o que cada pessoa me traz. Isso de ser bom ou mau é conceito defeituoso. Não há bitolas acertadas para medir. As que há são feitas e usadas igualmente por pessoas boas e más. O resultado é viciado porque as pessoas más não dizem que são más, tal como as pessoas boas não apregoam que são boas. E o que interessa isso, afinal? Abomino o rigor de definições morais que valem zero para as mesmas pessoas que bradam esses conceitos na hipocrisia que lhes eleva a voz. Eu quero é colocar as mãos à volta dos pescoços e apertar, apertar e apertar mais até sufocar todas as pessoas que me fazem mal. E depois de sentir o estalo das vértebras e de lhes arrancar o último suspiro quero continuar a apertar até já não sentir as mãos. Até já não sentir o que fiz a cada vida que já nada me diz. Apertar e esmagar, até essas pessoas deixarem de existir na minha pele e escorrerem como areia de ampulheta por entre os dedos do crime, para um passado que enterro nas memórias de tudo aquilo de que desisti. Às pessoas que me fazem bem ofereço-lhes os braços e encosto-as ao peito. Essas, não merecem menos. Não porque me fizeram bem a mim, mas sim porque foram capazes de fazer bem a alguém. Esse é um prodígio que merece bem o abraço. Esse é um prodígio que todos podemos fazer. Não compreendo por que razão é tão escasso. Eu podia considerar que o defeito é meu. “Sou eu, e não os outros”. Seria mais cómodo. Mas não sou eu. Os outros (a revoltante e absurda maioria) é que estão mal. Apenas acham que não porque são mais. A Terra continua a ser plana para essa maioria. Os que afirmam a esfericidade sofrem por saberem qual é a forma de verdade. Ainda assim, têm de concordar com as alarvidades dos que dizem que os oceanos caem no abismo que cerca o mundo. A maioria chama-lhes abismo. A minoria sabe que o nome é, na verdade, estupidez. A vida é assim, uma ditadura ignorante governada pela mais tirana e odiosa das leis: “Se os outros fazem, então, também me é permitido.” Esta lei seria justa, se o que os “outros fazem” não significasse tantas coisas erradas. Que nojo. É só o que me vem à cabeça. QUE NOJO! Um fel verde e ácido que me queima o peito ao subir à boca. Mas não posso cuspir. Tenho de voltar a engolir, mesmo sabendo que me queimará o estômago. A revoltante e absurda maioria é que manda. A revoltante e absurda maioria é que decide o que se pode cuspir e o que se deve engolir. Essa maioria é revoltante porque se faz de pessoas que já foram melhores. Pessoas que se vergaram à necessidade de aprovação. Pessoas que se fartaram de afogar a garganta quando apenas queriam respirar a sua verdadeira vontade. E essa maioria é absurda porque não faz qualquer sentido. As pessoas nascem vazias. Todos crescemos e somos aquilo que trazemos para dentro de nós. Por que razão escolhemos o pior? É absurdo! É claro que a maioria gosta de dizer que não se escolhe. Sim, muitos gostam de poder usar esse escudo furado. Se é assim… se é verdadeiramente assim, então não se apresentem como pessoas. Digam-me: “olá, eu sou uma máquina pré-programada, e daquilo que eu faço não escolho nada”. Se é isso o que são, não custa nada. Não há sentimentos para atrapalhar. Não há emoções para sentir. Não há finalidade no chorar. Não há motivo no sorrir. Assim, eu vivo num mundo de máquinas. Sendo eu carne, estou sozinho. Se me corto, espero que o sangue escorra e que o corpo cicatrize. As máquinas, simplesmente, vão para arranjar. Ou são atiradas para uma sucata qualquer quando já não têm concerto. Ou, então, já nem isso. Agora já não há sucatas. Tudo se recicla. Até as pessoas-máquinas. “Até”, não. “Especialmente” as pessoas-máquinas. Entram nas nossas vidas, avariam, jogam-se num contentor com uma cor qualquer e são substituídas por um item idêntico. Já ninguém conserta pessoas quebradas. A paciência de relojoeiro foi-se para parte incerta com um bilhete só de ida no bolso. Se isto não é para sentir um peso no peito… se isto não é para sofrer um aperto no coração… se isto não é para chorar… então, não sei o que mais trará lágrimas. Não sei. Não sou pessoa-máquina. Não tenho todas as respostas bem decoradas, guardadinhas algures num processador com infindáveis gigas de capacidade. As respostas que sei custam-me. Às vezes uso cábulas, é certo. Mas só porque não me posso lembrar de tudo. Nem quero. Quero poder falhar. Quero poder dizer “não me lembro”. Mas não digo “não me lembro” quando não sei. É mesmo apenas quando não me lembro. Quando não sei, vergo-me diante das pessoas-máquinas e digo-lhes que só sei o que sei. E se há uma coisa que eu sei é isto: existo. O valor desta palavra é tão esquecido e empobrecido! Já poucos querem saber o que significa. Não importa. Não vou mesmo entrar agora em tratados filosóficos acerca do lugar que cada um ocupa no Grande Plano das coisas. Não tenho sequer a pretensão de pensar que poderia dizer algo concreto acerca de tamanha incógnita. O que me interessa aqui são as pessoas. Aquilo que vejo nelas e como o vejo. A maior parte das vezes, vejo apenas mentiras. Uma visão triste quando se vive rodeado de pessoas. É de querer cegar para não ver. Mas não posso cegar. Não sei se é por coragem ou por falta dela. Por isso, às vezes, apenas fecho os olhos. Faço de conta que não vejo (eu disse que quero poder falhar). Afinal, sou pessoa e preciso de outras pessoas. Mesmo que sejam apenas pessoas-máquinas com sentimentos de ilusão. Mesmo que sejam utopias irrealizáveis que suscitam a vontade de acreditar que se encontrou alguém bom. Alguém que sangra como nós. Alguém que não nos deixa sós. Alguém que não se aproxima apenas porque lhe convém. Alguém que precisa de nós também. Quero impossíveis. Eu sei. Quero impossíveis, mas quero! As pessoas-máquinas contentam-se com o possível. O impossível dá erro. Tudo tem de ter nomes. Títulos. Títulos de exactidão. Todos querem definir o amor. Eu prefiro senti-lo, seja lá o que isso for. A mim, não interessa a definição. Interessa o toque da mão. Dez dedos. Posso tocar uma pessoa e saber o que é amar de dez maneiras diferentes. E apenas tocando-lhe com os dedos das mãos. Quantas mais maneiras há de tocar em alguém? Como se pode querer definir algo que acontece mesmo quando não se percebe que aconteceu? Como é que se pode arranjar um título para isso? Se há alguém que tem essa resposta, não sou eu. Sou apenas redundante, numa raiva que me puxa cada vez mais para dentro, para um lugar de onde se torna cada vez mais difícil sair. Eu podia fazer deste arrepio de palavras um ciclo/círculo vicioso. A razão e o sentimento vão sempre dar ao mesmo. Apesar de, à primeira vista, poderem parecer antagonistas… sempre frente a frente, e nunca lado a lado… ambos se entendem muito bem. A razão sabe que o sentimento faz falta. O sentimento sente que a razão também. “Assim, mesmo que te ame, deixo-te ir. Por algum tempo, deixarei de sorrir. Ou apenas sorrirei menos (não quero mentir).” Este é apenas um exemplo de como a razão e o sentimento se entendem. Se duas coisas que parecem tão diferentes se entendem, por que razão as pessoas (que parecem/são tão iguais) não o fazem então? É por causa do que mentem em relação ao que sentem? É por causa do que sentem em relação ao que mentem? Porquê, raios partam! Porquê? Estas palavras não levam a lugar algum. Eu sei. Também não quero chegar lá, aonde esse lugar algum for. Eu sei onde estou. Eu sei quem sou. Cão? Não. Pergunto novamente. Cão? Sou. Então? Então, as pessoas como eu saberão. As pessoas-máquinas, não. Sabemos conhecer as pessoas que nos mentem pelas mentiras que aceitam de nós. Mas, para isso, temos de mentir. Se não o fizermos haverá outra maneira de descobrir? (eu sei, mas não vou dizer… deixei claro que não revelaria nada de verdadeiramente meritório). Se não houver outra maneira, resta aceitar e mentir também. Mas se tiverem de mentir, mintam bem. Isto não é um apelo à mentira (depois do que já disse seria, no mínimo, hipócrita). É outra coisa. É revelar um pouco de coração. As pessoas boas também mentem. Tal como as pessoas más podem dizer a verdade. A diferença é que as pessoas boas mentem com boa intenção. As pessoas más que dizem a verdade, não. É essa a diferença que revela um pouco de coração. Pessoalmente, dispenso a mentira, seja qual for a sua razão. Prefiro o aguilhão da verdade que não me deixa pousar a cabeça e dormir do que a ilusão da mentira que me permite continuar a sorrir. A verdade cura. E perdura. A mentira adoece. E enfraquece. Aqui não há idealismos ingénuos. Se houvesse, eu não teria a abertura de mente para considerar sequer essa eventualidade. Estaria demasiado enlevado pela inocência desses tais idealismos para perceber que sofria de cegueira para a realidade. A realidade também é, em si, subjectiva. Por muito que me custe admitir, é mais aquilo que nos fazem crer do que aquilo que acreditamos saber. Ainda assim, temos de escolher uma pedra preciosa em bruto e lapidá-la. O resultado será a nossa realidade. Se escolhermos um bom diamante e tivermos engenho, a jóia deixará passar a luz em todo o seu esplendor. O invisível será decomposto em cores que não sabíamos existir mesmo diante dos nossos olhos abertos ao expoente máximo. Esse diamante será o nosso maior valor. Será o prisma que nos dará a possibilidade de olhar para as pessoas e ver as suas variadas perspectivas. Poderemos olhar através desse caleidoscópio humano e perceber: “tu mentes, tu não.” Umas vezes com satisfação, porque vemos antes de sermos enganados. Outras vezes, com desapontamento… porque somos apenas pessoas e gostamos de poder falhar.

Cão Sarnento.

(bah!... vou mas é continuar a falar de como se assam sardinhas sem queimar a dita cuja)

O Cão


O que é mais apelativo: a ilusão de sermos ou a ilusão de parecermos? Pergunta difícil. Resposta complicada. Não vou sequer falar da verdade. Há quem diga que não existe. Deve ser por isso que a verdade é menos apelativa do que a ilusão. Ilusões há muitas. Verdades há poucas. Na verdade, a verdade irrita (frase curiosamente redundante). E por que razão irrita assim tanto a verdade? Por tantas razões que não cabem numa página de respostas. Vou apenas dizer qual é a maior razão para a verdade irritar assim tanto. A verdade irrita porque limita a ilusão. Todos gostamos de parecer melhor do que o melhor que somos. Mas todos sabemos qual é a verdade. A verdade é que parecer não é ser. Ou talvez seja. Se parecermos por tempo suficiente, e com cega convicção, talvez passemos a ser isso mesmo… aquilo que parecemos (na nossa cabeça). Eu não sou tudo o que pareço. Não me custa admitir, porque também não faço por parecer o que não sou (não tenho culpa dos erros de percepção de gente desatenta). Às vezes, nem sequer queremos ser melhores. Apenas queremos ser diferentes. Estamos fartos de sermos os mesmos por tanto tempo. E esse cansaço começa cada vez mais cedo. Até há bem pouco tempo, era coisa que vinha com “os trinta”. As pessoas ficavam repentinamente com a febre de “mudar de vida”. Realizar sonhos que ficaram na gaveta ou qualquer outra treta (só para rimar com gaveta). Mas nos dias que correm é coisa que já apanha as pessoas na adolescência. Mal acabam de ser desmamados, os jovenzinhos ficam logo fartos de serem gente normal. Todos/as querem ser aquele/a cantor/a que veste roupas ridículas em cima de um palco, na frente de milhares de ilusões aos pulos. Querem ser artistas esquizofrénicos que acham que uns salpicos de tinta ao calhas fazem uma obra-prima. Querem pintar telas inigualáveis ou representar papéis importantes no cinema. Palermas. Todos desvalorizam o papel mais importante das suas vidas: as suas vidas. É a ironia mais sacana que pode haver. Eu sou o Cão e não sou. Sou, para quem apenas o conseguir ver. Não sou, para quem me conhecer. Ou será ao contrário? A pergunta não é para mim. Eu sei o que sou. Sou os dois. Cão e não. O que os outros são, a maior parte das vezes, é apenas ilusão. Mas a ilusão é de quem? Não há óculos high-tech para ver através da fachada humana. Há aparelhos que permitem ver até à medula do osso humano. Podemos ver o próprio sangue a fluir nas veias. Mas não há máquina alguma que nos permita olhar para dentro das pessoas da maneira que mais importa. Podemos ver-lhes o coração, mas não vemos o que o faz bater. Não vemos essa razão. Resta-nos acreditar que a podemos saber mesmo sem ver. Resta-nos essa ilusão*.

Cão Sarnento.
*post scriptum: abram mas é esses olhos, pá!

É...




Foda-se, meu amor, não me negues o tesão! Amar fica caro se não houver aquele calor do corpo que faz com que tudo não seja apenas bom. Às vezes, “apenas bom” é pouco e faz parir desejos de querer “muito bom”. Dá-me a tua verdadeira vontade de fazer coisas que te envergonham. Senão… bom será apenas bom. É. As coisas são mesmo assim. Negar aquilo que nos faz corar é definhar todos os dias um pedacinho. É uma célula que morre em vez de se reproduzir. É a apatia em vez do sentir. É a mão na frente da boca a conter a vontade de rir. Rir à gargalhada é liberdade que poucas vezes se permite por se achar uma coisa errada… pouco educada. O que é educação? É sentir aquela vontade danada e, mesmo assim, dizer não? Muita gente faz isso para que a pessoa que lhe dá essa mesma vontade não fique com a “ideia errada”. “Ai, que eu não quero que ele pense que eu sou uma oferecida, uma esta ou uma aquela.”, pensa a moça preocupada. “Epá, é melhor ir com cuidadinho para ela não pensar que eu só a quero para aquilo.”, pensa o rapaz interessado. Sim, há muitas pessoas que pensam assim só para não transmitirem a ideia errada. Idiotazinhos ridículos e cobardolas. Não há maior ideia errada do que pensar uma coisa e dizer outra completamente oposta. E, depois, vêm para cá com teorias pseudo-académicas de que nunca alguém conhece verdadeiramente alguém. Pudera! Se ninguém se dá realmente a conhecer, é apenas isso que se tem. Não desatem a carpir infelicidades por tamanha fatalidade do destino, como se tivessem menos culpa do que alguém. “Em que estás a pensar?”, perguntou A. “Em nada.”, respondeu B. É preciso adiantar mais conversa? Esta pergunta/resposta é suficiente para resumir o comodismo de aceitar passivamente uma mentira e o descaramento para inventar uma remendiola deslavada. E ambos sorriem, uma letra para a outra, A e B (substituam pelos nomes que bem entenderem… todos encaixam), ambos sabendo que a mentira está lá, e que a coisa boa, aos poucos, vai apodrecendo para uma coisa má. Pronto, tenho de admitir que, às vezes, “em nada” é mesmo uma resposta verdadeira. Mas poucos são aqueles que realmente possuem a capacidade de pensar em “nada”. É coisa de iluminado, que apenas o Buda e os seus compinchas do nirvana podem alcançar (é favor não incluir aqueles que são verdadeiramente estúpidos pois, para esses, não se trata propriamente de uma capacidade… é-lhes inerente e não lhes respeita a vontade). “Em nada” também pode ser apenas uma expressão que significa “nada de importante”. Nesses casos, é preferível responder mesmo assim. Entre A e B que se conhecem isso será bastante. É claro que poderá permanecer a questão: “Que merda… afinal, se estás aqui comigo, por que raio estás a pensar em nada de importante?” É…

Cão Sarnento.

"hush"


Hush

Hush little baby,
we’re coming home
for tonight
Not a certain but maybe,
we’re not alone
in our fright

The shimmering
mirror image of me
living in your eyes
it’s the wavering
last smile to see
in all our goodbyes

No waving hands
getting tired
No warm tears
getting cold
No fairy tale ends
getting desired
No deep fears
getting old

That’s the way
things are to be
when you can’t stay
inside of me

That’s desire
No lying
No shying
No ashes
No crashes
Just the fire
of those flames
inside the chest
without the blames
taking the best

Skin feeling skin
Lips kissing lips
Chin touching chin
Hips pushing hips

Hush…
Hush I said
Don’t cry alone in bed
Hush…
Hush little baby
Don’t let it get you
Smile, maybe…
Please, do

Cão Sarnento.

Fetish me




Como saber até onde podemos ir sem que nos digam onde devemos parar? Qual a força tolerável das palmadas até que se tornem verdadeiramente dolorosas e desagradáveis? E morder? Até onde podemos enterrar os dentes na carne sem fazer sangue. Qual a tolerância da pele ao fio das unhas? Quanta pressão se aguenta até surgir a vontade de gritar “foda-se, pára!”? E a confiança? Até que ponto nos permitimos entregar o nosso corpo nas mãos de outra pessoa e deixarmo-nos à mercê das suas vontades? “Queres prender as minhas mãos à cama? Algemar-me? E se gostas do que eu não gosto? E se mo fazes sem eu querer?” Como saber estas respostas sem as pedir abertamente? Devemos confiar nos instintos? Devemos acreditar que conhecemos verdadeiramente a pessoa que nos acena com um par de algemas? O que fazer? O que pensar? O que permitir? O que aceitar? Haverá respostas concretas? Devemos pedi-las? E se nos perguntam a nós? Devemos responder com sinceridade? Será que devemos? Será que não assustaremos quem nos pergunta? Será que não nos assustaremos a nós mesmos com certas respostas que acabamos por dar? Até que ponto alguém se conhece realmente? Quantos cantos escuros ficam por iluminar nas memórias reprimidas de um passado mal resolvido? Quanta sujidade escondida se encontra varrida para debaixo de um qualquer tapete marroquino? Quantas vezes nos recusamos a admitir que somos “assim”? Quantas vezes nos sentimos enojados por pensarmos “nessas coisas”? E quantas vezes não compreendemos por que razão não ficamos enojados por pensarmos em coisas piores? “Sim, é isso que queres? Que te bata? Mesmo? Com força? Mesmo?” E porque não? Porque não fazê-lo? Porque não permiti-lo? “Mas, mesmo a sério?” Porquê hesitar? Porquê perguntar? É para não magoar de verdade? É para sabermos se a outra pessoa quer mesmo uma agressão que lhe dará prazer em vez de sofrimento? E se não houver prazer? E se for apenas fingimento? E se a outra pessoa não gostar de apanhar? E se formos apenas nós que gostamos de dar? E se a outra pessoa apenas gostar tanto de nós que está disposta a fazer-nos essa vontade? E essa pessoa? E a sua vontade? Devemos contentar-nos com o egoísmo ou recusar essa cómoda falsidade? O que se faz quando se gosta de verdade? Sente-se a mentira? Reconhece-se a verdade? Sim? Não? É isso a cumplicidade? É um entendimento justo ou apenas a permissividade de cada um por gostar do outro com sinceridade? “Não” significa mesmo não? As recusas são sempre inequívocas entre amantes? “Não quero” significa sempre “não me apetece mesmo” ou, às vezes, significa apenas um “pode ser” de uma sedução preguiçosa e mal conseguida? É isto que se deve esperar da pessoa que se encontrou em algum dado momento da vida? É o medo do que há de mais íntimo entre duas pessoas que se querem um demónio assim tão difícil de exorcizar? É um monstro de feições assim tão feias que nos revolve as tripas? É uma quimera assim tão impossível de encarar por falta de coragem para aceitar as diferenças como elas são? E que diferenças? O que é verdadeiramente diferente? Quem o considera? Em relação a quê ou a quem? Quem tem esse direito e autoridade? E a sapiência para fazer tal juízo? Reside em alguém? E isso importa? Importa mesmo? Por que razão não havemos de querer amarrar alguém para sentir o poder de decidir sobre o prazer da pessoa que queremos? Se queremos essa pessoa, não queremos também que o seu prazer seja verdadeiro? “Posso prender-te à cama? Algemar-te as mãos? Queres experimentar o que é foder sem teres o controlo sobre o teu desejo de te agarrares a mim e cravar-me as unhas na carne? Queres arder com o tesão de procurares morder-me o pescoço sem te conseguires mexer para o fazer?” Porque não perguntar essas coisas? Porque não? Porque não fazê-lo enquanto olhamos a outra pessoa nos olhos e lhe pegamos na mão? Porque não? Porque não dizer-lhe quem somos se temos essa pessoa no coração? Porque não? São respostas difíceis de saber? Se me perguntarem, saberei responder? Saberei, se me olharem nos olhos? Saberei, se me pegarem na mão? Terei, antes, mais perguntas em vez de respostas? Sim? Não? Afinal, o que sei eu sendo apenas um cão?

Cão Sarnento.

Pole position



Segue-se um excerto da ladainha do costume:
“— Vá, tu primeiro!
— Não. Tu!
— Oh! Vá lá!
— Nã-nã-nã… tu!”
Ora, em que possível situação é que se pode enquadrar esta discussão patética? É só escolher. E a que eu escolho agora é uma das situações que mais atormentam tanto homens como mulheres. É o eterno chover no molhado, se assim o quiserem entender (se não quiserem, quero eu, e é o quanto basta). É a idiota indecisão acerca de quem deve dar o primeiro passo. Quem deve dar o primeiro abraço? E o primeiro beijo… eu ou tu? E o primeiro vamos-a-isso? Quem é que se faz ao piso, hã? É claro que toda esta discussão imbecil se passa apenas dentro das cabeças das pessoas envolvidas, uma vez que não há a tal… (como é mesmo?) coragem para verbalizar o que realmente se quer, quando se quer. O facto é que ambos querem. Não importa realmente quem seja o primeiro a avançar. O que importa é que se queira. Pois! Acontece que as pessoas não funcionam assim. Há o status quo que deve ser mantido. E, afinal, o que raio é esse tal de “status quo” para ser assim tão cegamente defendido como dogma inquestionável? Bem, é simplesmente a maneira como as relações entre homens e mulheres sempre decorreram. Ao cavalheiro compete tomar a iniciativa. À dama compete esperar que a iniciativa seja tomada. Eu gostaria de estar a falar de um procedimento que já se extinguiu há mais de um século mas, infelizmente, parece que daqui a um século ainda alguém há-de estar a defender esse tal de “status quo” como uma coisa bastante actual. Mas, afinal, por que raio há-de ser o macho a tomar qualquer tipo de iniciativa quando a fêmea também está definitivamente interessada? E porque grande carga d’água ambos os sexos aguentam ainda tamanho despropósito? Bem, as respostas são variadas, mas não são para todos os gostos (duvido que agradem a quem quer que seja). É o seguinte: as mulheres, por seu lado, gostam de manter a sua bela imagem (fachada cinematográfica) de criatura dócil e frágil, que tem de ser levada com muito cuidadinho, muitos paninhos quentes e tal, para se sentir valorizada e realmente desejada. Ei! Get real! Tal ilusão NUNCA foi uma verdade universal! Há por esse mundo fora um sem número de cadelas que fazem muitos cães enfiarem o rabinho entre as pernas quando arreganham os dentes. Por isso… por isso, hã! Por isso não me venham com lengalengas de velhas hipócritas que se masturbavam com crucifixos na flor da idade. E os homens, esses, bem (só me apetece debitar para aqui um chorrilho de impropérios cabeludos, daqueles bem “toma-lá-qué-práprenderes!”). É que a esmagadora maioria desses piiii (insulto gratuito censurado) continua a alimentar esse devaneio feminino de “ai e tal, que eu sou especial e não me devo sujeitar a dar o primeiro passo porque me posso lixar por ele não querer nada comigo ou, até, pensar que sou uma esta ou aquela”, e depois ainda se queixam que “elas é que têm a mania que são difíceis!” (só me ocorrem milhentas maneiras de mutilação em massa, cada uma mais dolorosamente castrante do que a outra!). Notícia de última hora: se as mulheres têm a mania que são difíceis, é porque os HOMENS (raios partam a maioria deles!) lhes permitem tamanho desvario! E para quê, já agora? Ora, a resposta não pode ser mais óbvia: o eterno ego masculino! Os pobres imbecis pretensiosos alimentam essa paparicação do sexo feminino apenas como forma de se auto-elogiarem. É que, lá no fundo da sua esperteza bacoca, juntam 1+1 (um cálculo prodigioso para alguns!) e convencem-se de que se eles conseguem conquistar uma mulher “difícil”, então, por dedução lógica, eles serão portentosos conquistadores. (cabrõezinhos estúpidos dum raio!). A simples realidade que escapa à maioria (homens e mulheres) é esta: a distância que separa um homem e uma mulher que se querem nunca é apenas um passo, mas sim dois. Se ambos avançarem um passo encontram-se no meio. Atinem! (é claro que permanece o pequeno detalhe de faltar saber quem dará o primeiro passo…).
Cão Sarnento.