Capuchinho Vermelho



“Avozinha, porque tens uma boca tão grande?”, pergunta a miudinha estúpida (ou míope) que não vê logo que o raio da velha é um lobo disfarçado. “Ora, minha netinha… PARA TE COMER MELHOOOORRR!”, responde o lobo (mau?) logo antes de comer a adolescente parva de uma maneira não especificada. Evidentemente, o mau da fita nessa história da carochinha (sem carochinha), é o lobo. Errado! Está perfeitamente claro que o bicho é vítima do mais profundo preconceito social. Então, já pararam para reflectir um bocadinho acerca da realidade dos factos que, por sua vez, são fictícios? “Nariz tão grande! Orelhas tão grandes! Olhos tão grandes! Boca tão grande!” Que porra! Será que o raio da rapariga sofria daquela doença esquisita em que a pessoa apenas consegue identificar partes do rosto mas não o rosto em si, como um todo? O que era, afinal, necessário para que ela percebesse que quem lhe falava era um lobo? (já nem vamos tentar interpretar o facto de o lobo falar). Também há que considerar a possibilidade de a tal avozinha ter sido um soberbo exemplar da mítica “mulher do norte” (pensem em montanhas e no Bigfoot) e que as semelhanças entre ela e o animal possam de facto ter induzido em erro um par de olhos mais desatentos. Mas estas e outras interpretações semelhantes apenas poderão fazer verdadeiramente sentido nas cabecinhas das pessoazinhas inocentinhas. Vamos lá abrir os olhos para a realidade e chamar as coisas pelos nomes. A Capuchinho Vermelho era uma grande cabra, isso sim! Melhor será dizer… uma inacreditável cadela dengosa! Oh, sim! Porque, depois de analisar bem a história, torna-se evidente que a vítima no meio disto tudo foi nada mais, nada menos, do que o próprio lobo. Foi uma jogada muito bem pensada! Na verdade, a avozinha nunca existiu. Foi tudo invenção da menina (que não era assim tão parva). Quando o lobo a encontrou no meio da floresta, ela convenceu-o de que ia levar à avozinha uma bodega qualquer dentro do cestinho. Quando o lobo atalhou caminho e chegou à casa da velha, não a encontrou, claro está. Mas, uma vez que já tinha entrado e já, decidiu disfarçar-se da imaginária carcaça mirrada e enfiou-se na cama à espera da menina inocentinha. Menina inocentinha uma grandessíssima e refinada porra! A Capuchinho era lá uma menina! Era uma mulher muito bem feita, e ainda mais safada, isso sim! De onde acham que vem a expressão: “Mas afinal pensas que isto é a casa da avó, ou quê!” (pronto, talvez não venha da história do Capuchinho, mas apeteceu-me usá-la como argumento de retórica). O lobo é que caiu no conto do vigário. E esta é uma extraordinária analogia (evidente) retirada da minha genial capacidade interpretativa (também evidente), que pode ser aplicada ao comportamento que as mulheres dos tempos modernos adoptam em relação aos homens (digo, aos machos incautos, e com a mania balofa de que são wise guys). Os machos que acham que são espertos olham para as meias altas da menina e vêem uma adolescente que será uma potencial presa fácil. Os machos que, efectivamente, são espertos, olham para as meias e espreitam sorrateiramente por baixo da saia, para verificar se estão presas por um cinto de ligas. Mais vale desconfiar e verificar do que presumir e cair. Se o lobo se tivesse dado ao trabalho de espreitar para dentro do cesto, certamente que teria achado estranha a presença de duas marcas diferentes de lubrificante, preservativos sortidos e um dildo com medidas respeitáveis. Hoje em dia, são as meninas inocentinhas que abocanham (façam lá a piada manhosa que entenderem) os machos com mau nome na praça. Chamam-lhes um figo (ou qualquer outro fruto com fama exagerada de coisa boa), e os desgraçados às vezes nem sabem o que os atingiu. É a evolução dos tempos. Cada vez há mais Capuchinhos Vermelhos por aí, e também abundam os lobos que se disfarçam de inocentinhos, alheios ao facto de que, na realidade, são eles que estão a cair na esparrela. É viver e aprender. Felizmente, sou Cão.

Cão Sarnento.

5 comentários:

carpe vitam! disse...

Vem-me à memória a fábula dos tempos modernos: Mulher, por que esperas pelo Príncipe Encantado? Escolhe antes o Lobo Mau: vê-te melhor, ouve-te melhor e ainda por cima, come-te! AUUUUUUUUUUUUUUUUUUU!!!!!!

Quimera disse...

Por falar em histórias da carochinha, vem-me à ideia uma frase que costumo dizer. Na infância fazem-nos acreditar que os sapos se transformam em príncipes. Na vida adulta descobrimos que afinal os príncipes é que se transformam em sapos (ou lobos). Não deixa de ser curiosa a forma como transportamos algumas fábulas infantis para o nosso quotidiano. Será vontade de não crescer ou será que só agora entendemos a mensagem? :-)

Sarnento, adorei o texto!!!!

carpe vitam! disse...

Já agora, deixo aqui a versão moderna da história da Branca de Neve ;) http://www.youtube.com/watch?v=fn_MIY33fc4

Johnny disse...

Com esse amarelo todo, deve 'tar a fominha mais junta que a areia!! Eheheheheh...

Cão Sarnento disse...

Toda a gente(pelo menos os iluminados) sabe que a única coisa que dá "encantamento" ao tal de Príncipe é o inegável facto de ele ser um rabeta do mais rabeta que pode haver.

Príncipes-sapos, sapos-príncipes... mas, afinal, anda toda a gente a marcar passo na estradinha de tijolos amarelos, em direcção à Cidade Emeralda, ou quê? Get real, people! Há apenas homens e mulheres (nada de cavalheirismos). Gajos e gajas. Caralhos e conas. Com sorte, no meio de tanto ouro dos tolos, lá se encontrará o caralho ou cona que foderá melhor, da melhor das maneiras (que maneira é essa, não a vou agora divulgar... também não queriam mais nada... já estou a ser demasiado generoso com a minha elevada sapiência).

Bem, eu sempre ouvi dizer que a fome é NEGRA. No entanto, admito que haja quem a pinte das mais variadas cores. he!he! e mais he!