Tea for two



“Sim, meu amor, para sempre!”, e depois ala que se faz tarde! É! É mesmo assim que nos despacham, acabando por desaparecer do quentinho dos lençóis, todas as pessoas que nos prometem mundos e fundos, sabe-se lá com que intenções. Se, desde o início, foi apenas coisa de cama, perfeitamente esclarecida e sem equívocos de melodrama com enredo simplista de celofane, não há enganos a perdoar nem mentiras/verdades para atirar às respectivas trombas da respectiva outra pessoa. É assim e mais nada. Foi só uma cambalhota rebolada com prazer de parte a parte (se a coisa correu bem), e não houve cá secretas intenções de casório num qualquer domingo soalheiro de Agosto carregado de irritantes casamentinhos de emigrantes (nada contra os imigrantes e seus respectivos casamentinhos, mas temos de convir que ainda restam mais onze meses úteis no ano para o raio do nó… do laço, da gravata, da forca, ou lá da metáfora que mais entenderem apropriada). Mas, pronto, prontinho, prontidão… a vida é assim, quer queiramos ou não (apeteceu-me rimar… e depois!). Não adianta ficar na manhã seguinte a carpir choraminganços de triste pessoazinha enganada por cima da solitária xícara de chá (ou qualquer outra bebida perfeitamente inútil na cura da tristeza, mas com ilusórios efeitos placebos para o que quer que seja que mirra o pensamento e derreia o corpo). Depressão? Deixem-me que lhes fale do que é depressão. Depressão é sermos tão deprimentes que, sempre que estamos no meio de uma multidão, o pássaro nos caga sempre a nós na coroa de cabeça. Maior depressão ainda é ser a única pessoa no meio de um enorme deserto, como uma vastidão do caraças em redor, e o tal pássaro cagão soltar o seu projéctil kamikaze que acertará mesmo em cheio na mona deprimida da tal pessoa deprimente. Depressão é doença? É. É, sim. Uma doença do caralho, se me permitem a caralhada (se não me permitem, permito-me eu, que é a permissão que me interessa para dizer o que bem entendo). Ai Jesus, que a minha cara-metade anda a completar-se às escondidas com outra metade qualquer! Ai Jesus, que as minhas finanças são o equivalente histórico à Quinta-feira Negra! Ai Jesus, que nunca passarei férias naquela paisagem de postal! Ai Jesus, que o mundo inteiro está contra mim! Ai Jesus, que estou com entradas na testa! Ai Jesus, que parti uma unha! Ai Jesus, que ai Jesus! Tenham tino, pá! (e já agora, essa cena do “Ai Jesus” é só mais uma acha altamente combustível para toda essa fogueira deprimente). Se balir o nome do divino gajo não se adiantou a ele próprio, o que acham que adiantará a alguém? Néris di pitibiriba! (ou lá como esta treta com sotaque brasileiro que significa “nada” se escreve… eu ainda era um espermatozóide de infantilidade quando ouvi a expressão numa novela qualquer). The bottom line is… weeping over past fucking people who didn’t give a pubic hair about us it’s just stupid. Ou, se preferirem em língua de gente: pá merda com isso! Deprimido fico eu ao perceber que as pessoas encontram o seu Fim Do Mundo pessoal ao virar de cada esquina, no mais pequeno obstáculo do dia-a-dia. Ganhem lá espinha dorsal! E… ficar a pingar autocomiseração sobre xícaras de vapor que arrefece, a remoer afectos que não existiram… isso é coisa de gente que não sobrevive ao quebrar de um prato com defeito de fabrico, comprado à dúzia numa qualquer loja dos chineses.

Cão Sarnento.

5 comentários:

Engonha McQueen disse...

Qual Xanax, qual mezinha carpideira, qual divã de psicólogo encapotado, qual apanhar gambozinos em campos verdejantes?! O que resolve mesmo este flagelo da sociedade moderna é: logo pela manhã, pôr um bonito chapeuzinho de palha na cabeça, e andar o dia todo com os braços esticados na horizontal… Se conseguir equilibrar uma cenoura no nariz, tanto melhor…
É capaz de aumentar as tendinites, mas “A Grande Depressão dos Anos Tristes” será definitivamente ultrapassada!
Nobel já para o sarnento!

carpe vitam! disse...

Não são os outros que nos esmagam o coração até o deixar exangue, somos nós que o fazemos a nós próprios, com requintes de sado-masoquismo. Porque queremos, porque esperamos, porque acreditamos... e depois, fodemo-nos muito mal fodidos. Remédio para isso? Bem, o chazinho afoga mágoas… eventualmente, o chapelito de palha e a cenoura podem servir de manobra de diversão. Mas vamos deixar de querer, de esperar, de acreditar? Na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, por todos os dias das nossas vidas, somos casados com a Expectativa. Sem grandes possibilidades de divórcio.
Mas nem sempre corre mal, o bom disto é que a Expectativa não é ciumenta e aceita bem a poligamia, pelo que nos deixa casar com a Esperança, o Entusiasmo, a Excitação e mais quem quisermos.

Cão Sarnento disse...

Nobel? Pff (com projecção de cuspe). Eu quero é uma estátua esculpida numa dessas novas substâncias duráveis que não oxidam nem escurecem com o tempo. Quero ser representado nuzinho. E que a estátua tenha, pelo menos, uns seis metros de altura para... não passar vergonhas públicas, por causa de certas proporções que, normalmente, ficam desproporcionais (por defeito) em relação ao modelo original. (sim, sim, eu sei bem como os escultores renascentistas eram exímios em encolher certas partes da anatomia de um homem... diabos os levem!).

Hum... por mais que eu leia aquilo que parece ser uma saudável comunhão entre coisas como Esperança, Entusiasmo e Excitação, a ideia que prevalece na minha cabeça é mesmo Bacanal. Fazer o quê?

carpe vitam! disse...

Bacanar é apenas uma das possíveis formas de Comungar...

Cão Sarnento disse...

Não percebo grande coisa de comungar...não sou suficientemente católico... mas se o assunto for excomungar já pode ser que se arranje uma reza ou duas.