Eu, polígrafo


Foda-se! Odeio que me mintam! Mas a vida é mesmo assim … haverá sempre quem nos tome por lorpas. Lorpa é coisa que não sou (só para deixar claro aos lorpas). Até as células mortas que me saem da pele todos os dias possuem inteligência suficiente para não ficarem a meter nojo à espera do banho. Quando eu sei que me mentem, isso esgana-me por dentro! Encolhe-me as entranhas e ferve-me o estômago em ácido (e essa é apenas a leve sensação de ardor que sinto no início). E por que razão a mentira me é assim tão cáustica? Tenho mesmo de responder a isso? Não é cáustica para toda a gente? Não! Foda-se! Não, não é! Há quem não se importe de comer com ela nas trombas todos os dias. Well, not me, caralho! (não há expressão alguma em inglês que supere o bom e velho caralho). Há até quem diga que eu estou sempre com o caralho na boca (riam-se lá do trocadilho imbecil, se assim o entenderem) mas, por mais que a minha heterossexualidade se vomite toda com a simples ideia de tal circunstância, eu preferiria estar com um caralho entalado na boca do que cuspir mentiras à boca cheia, como quem dispara caroços de cerejas como arma de pressão, à laia de coisa pequenina e sem importância. Pois bem, agora imaginem que um desses caroços de cerejas cuspidos acerta em cheio num olho de alguém. Lá está. Aí já é o caralho! Deixa de ser coisa pequenina e sem importância, porque essa porcaria arde que se farta e faz tremer a vista. Principalmente, se esse alguém deixou bem claro que não gostava de testemunhar essas ditas cuspidelas, e pediu antecipadamente, e com muita educação, que não se cuspisse na sua direcção. Depois disso, normalmente, a educação vai-se para parte incerta. Pelo menos, na grande maioria dos casos. No meu caso não é bem assim. Acontece que, mesmo abominando que me mintam, às vezes, eu permito educadamente que o façam. E (isto pode até parecer difícil de entender mas) permito-o ainda mais às pessoas de quem gosto. É que a mentira azeda-me e deixa-me um autêntico cabrão! (já passo a explicar a cabronice). É o seguinte… se a pessoa que me mente não me interessa particularmente, tão-pouco me interessarão as eventuais mentiras que possa cuspir na minha direcção. Os meus reflexos caninos permitem-me esquivar dos caroços de cerejas com relativa facilidade e eficácia. O problema é quando a pessoa que me mente está cá dentro do peito do Cão e merece (ou merecia até ao momento da mentira) a minha consideração. É que a coisa funciona assim: quando farejo a mentira (normalmente, nos primeiros instantes em que o caroço da cereja é cuspido na minha direcção), eu deixo a tal eventual pessoa estimada falar, enquanto penso cá para mim: “Mau! Isto não me está a cheirar nada bem!” (faro de cão, é importante que não se esqueçam). Mas no início é apenas uma impressão que fica. Sem a confirmação será sempre e apenas uma suposição. Acontece que logo que o instinto me faz latejar uma suposição dessas dentro dos ossos do crânio, o animal torna-se sacana na busca da confirmação e começa a dar corda para a eventual pessoa mentirosa se enforcar. E é com considerável tristeza que admito que acabo por assistir ao desagradável enforcamento na primeira fila, mesmo em frente à forca. Fico para ver até que ponto uma pessoa estimada (que dizia estimar-me de igual modo) pode ser falsa como uma nota de quinze euros. É uma lição difícil mas, se a aprendermos direitinho, facilita a aprendizagem das lições que se seguem. Além disso, há uma certa justiça poética no acto de permitir que a pessoa mentirosa se enrede nas malhas furadas das suas próprias mentiras. Depois, fico “insensível e distante”. Pelo menos, é o que me dizem os fantasmas das pessoas mentirosas depois de se suicidarem por asfixia com a boca cheia de caroços de cerejas. Sim, deve ser mesmo isso… grande cabrão que eu sou! Como é que eu pude deixar que me mentissem sabendo que me mentiam? Como é que eu fui capaz? Sim, têm mesmo razão essas pessoas afantasmadas coitadinhas… Sabem que mais? Têm é mais sorte do que merecem por o Cão não ser vingativo!

Depois da primeira mentira, a segunda é imunda… já não se retira… é mais fácil de dizer, e a terceira já é mesmo verdadeira. Jura-se que é verdade com toda a vontade. A verdade torna-se maldade e o amante, esse, não esquece… arrefece e vai-se curar do corte, procurando alguma verdade que lhe calhe em sorte, em qualquer lugar distante, longe da mentira marcante… (apeteceu-me dizer isto antes de acabar… para não pensarem que é só caralho para aqui e para acolá… e quem o pensar tem bom remédio… um supositório de 20cm no esfíncter… com a forma dum caralho!)

Cão Sarnento.

6 comentários:

muito querida disse...

porra cão

quem foi a cadela que te mentiu tanto e tão mal?

isso não se faz..

vou uivar um bocadinho para mostrar a minha solidariedade canina, meu cão.

deixo-te com duas lambidelas e afasto-me de cauda eriçada (naa..secalhar tendo em conta o supositório de 20 cm de que falas, é melhor ir sossegadita com o rabito entre as pernas)

Engonha McQueen disse...

Oh, caozinho! Sorte a tua que tens faro (não como o meu, mas…) e lá vais evitando a tempo que te cresça uma cerejeira entre o cabelo que não tens! Três urras!
A verdade é uma estopada: essa é a verdade! E outra verdade é: toda a gente mente! Paremos lá com as demagogias! E não me venham com a seca de que omitir ou pôr umas florzinhas com pintas na jarra (rachada!) não é bem a mesma coisa que mentir! Não é, está muito certo, mas anda lá de raspão… e como o chão tem cera, alguém há-de ficar com o melão! (eh pá, que rima mai linda!).
Mas olha, também te digo outra coisa: mil vezes alguém que mente com todos os poros que tem (pontos negros e furúnculos incluindo) , do que os malabaristas de palavras capciosas, doutorados em Verdades Jesuíticas e Letras Polidas, capazes de empalhotar o cérebro do mais atento! Os primeiros apanham-se com alguma facilidade, perspicácia e memória! Os segundos, oh esses… por muitos assaltos que façam, acabam sempre ilibados, por falta de provas concretas… deixando o saco das esmolas ainda mais vazio!
É a vida! Resta apenas confiar de verdade (pensando bem, de olho semicerrado, antes, não vá nos aparecer pela frente uma Dalila ou um Dalilo, que nos dê uma naifada no raio da trança!) e dormir numa almofada de penas com a consciência tranquila… Nem sempre é fácil (quem diz que é, já está mentir!), mas é, sem dúvida, a mais bela forma de gostar de alguém! Mesmo que isso às vezes aleije!

Rafeiro Perfumado disse...

Percebes agora porque dizem que é um mundo cão?

carpe vitam! disse...

uiuiui...

Pedi umas palavritas emprestadas ao Vergílio Ferreira (ele é bom para estas coisas): "A VERDADE ÉS TU. O que mais se segue já não interessa à conversa. Excepto para demonstrares essa verdade em movimento de recuo".

E tu sabes que um "supositório fálico de 20 cm" não é necessariamente um castigo, há por aí muito boa gente que gosta!

Cão Sarnento disse...

Só tenho a dizer que o mundo não é cão, é canil. Os cães somos nós.

calamity disse...

:D:D:D
«Mil vezes ter coragem para mentir que medo de dizer a verdade»

http://huummmmm.blogspot.com/search?q=mil+vezes