De pequenino se torce o pepino





A coisa começa mesmo no berço. Desde tenra idade que a tirania hormonal da Mãe Natureza obriga o cão sarnento a mostrar a sua raça. Começa sempre por coisas pequenas, completamente inocentes aos olhos dos adultos, e às vezes absolutamente imperceptíveis. A primeira vez que o miudinho levanta a saia à miudinha, apenas para descobrir que ainda é demasiado cedo para regalar os olhitos com uma minúscula lingerie que convida à sacanagem. (é claro que os termos “lingerie” e “sacanagem” ainda se encontram em fase de conhecimento embrionário, bem como todas as noções mais elaboradas de sexualidade). Mas, como se costuma dizer, o que conta é a intenção. E aquele primeiro beijito que se dá antes mesmo de saber o que é beijar? Ah!... esse é que é! Tão inocente! Tão espontâneo! Tão enganador! Sim, sim… enganador! Porque o cãozito (ainda sem a sua sarna) é demasiado inexperiente para perceber que a raiz do mal se desenvolve precisamente a partir daí. É o primeiro beijo que infecta o cãozito. A partir desse inocente, mas fatídico gesto, apenas lhe resta tornar-se uma de duas coisas: cão sarnento ou cão nojento. Será cão sarnento se aprender as coisas como deve ser. Se aprender que depois da infecção já não se pode curar essa virose inocentemente contraída por vida de contacto directo com uma fêmea durante a tenra idade do macho. Resta-lhe produzir anticorpos para combater a maleita, permitindo-lhe assim uma vida longa e repleta de contactos com fêmeas adultas para as quais já está devidamente imunizado. De certa forma, para os cães sarnentos, o primeiro beijo funciona como uma vacina. E serão cães nojentos se a produção de anticorpos for insuficiente ou (em caso de calamidade) nula. Neste caso, os pobres imbecis tornar-se-ão autênticos invertebrados sem vontade própria, cujo principal móbil é decidido pela exigência hormonal de copular com quantas fêmeas aparecerem no campo de visão (incluindo a periférica), e dentro dos limites do seu faro detector de disposição de acasalamento. Assim, sob a tirania da premissa básica “dá-me a única coisa que eu quero, que eu dou-te tudo o que tu quiseres”, esses cães nojentos, autênticos iconoclastas da boa imagem do excelso cão sarnento, contribuem inadvertidamente para a proliferação da ideia errada de que os homens são todos modelo estandardizado, de mente simples e objectivo único. Não, não, minhas meninas! Os cães sarnentos são homens. Os cães nojentos são projectos. O que acontece é que a maior parte das parvinhas das mulheres têm nas suas cabecinhas uma ideia redutora dos homens, porque simplesmente têm o fastidioso hábito de se contentarem com projectos. Os projectos de homens são fáceis de dominar com um jogo de cintura (quem nem precisa de ser grande coisa, diga-se). Basta o comum vaivém (ou sobe e desce) de ancas para a coisa se tornar satisfatória. Enfurece-me que haja “homens” assim! E dão-me urticária as mulheres que se contentam com eles. No final de contas, são essas que tais que afirmam à boca cheia que os homens são todos iguais. Pudera! Em vez de pouparem uns milhares de euros para a etiqueta de “certified quality”, só conhecem o produto adquirido para o desenrasque na velhinha loja dos 300! (300 escudos = cerca de 1 euro e meio, para quem não sabe).

Cão Sarnento.

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